Um dia, contemplando a
maestria do céu, sozinha de companhia humana, escoltada de vinho e cd de
Bethânia eu me questionei sobre o que é a vida e naquele momento eu não sabia
mais o que era viver.
Sentia em mim uma dor
flagelada assintomática e cruel. Era a vida cobrando de mim o seu trocado,
queria eu poder entender o significado de algo, era uma constante puérpera que
não desfrutara do prazer da maternidade, sofrendo de modificações físicas e
psíquicas como um vaso na mão de um velho oleiro, era eu refletida naquelas
águas, era a vida tomando de mim o que eu não podia lhe dar.
Naqueles momentos de constante
inconstância do meu eu, era apropriado que eu me despisse de todos os preceitos
e convencionalismos para não dizer, preconceitos em mim enraizados e repensasse
o quão bom é ainda estar aqui, viva ou não, não eu não estou falando de morte,
hoje não quero falar de morte, saiba você que há pessoas vivas que não sentem,
não sofre, não estão em coma, não estão em estado vegetativo, há pessoas por ai
caminhando, trabalhando, pensando amar e pensando estar sendo amada, mas que
não está viva, isso porque não entendeu o significado dessa infeliz palavra...
Eu sentia o gosto do vinho
tocando o céu da boca, eu sentia as canções entrarem em mim como facadas. Eu.
Eu. Que peso carrega essas duas letras. Eu. Quer mesmo saber? Eu sentia tudo e já
não experimentava nada, tudo era novo e ao mesmo tempo não havia novidade, não
mais havia existido amor, tragédia nem romance, estava eu ali somente a procura
do significado real que nenhum dicionário poderia me dar à resposta.
Tantas respostas para tantas
perguntas...
Indicaram-me então um ótimo
terapeuta, diziam que ele iria me curar, não sei como e por que, mas ele curou.
Se curou daquele temporal que o havia inundado tempos atrás. Curou do medo de
liberdade que o mesmo havia saboreado na doce infância, e não mais havia
experimentado.
Curou. Que palavra estranha
para ser degustada.
Dizia a mim sessão após sessão
que enfim estava descobrindo o que era vida, maldito! Quem pode com ela? Na
busca incessante de descobrir os mistérios da vida, descobri que por ora que não
havia mais...
(texto: Charles Nascimento)
Oii Charles!! Ahh eu super curti esse novo blog! E seu texto de estreia aqui já é digno de aplausos. Gosto da delicadeza das palavras e das vibrações que elas nos proporcionam. Você escreve com sensibilidade e eu gosto disso! Parabéns! Belo texto!
ResponderExcluirAbraços!
;)
Oi Joanderson!!
ResponderExcluirPoxa obrigado, fico realmente feliz com teus comentários. Muito obrigado mesmo!
Abraços!