quarta-feira, 11 de março de 2015

Provavelmente


Provavelmente pode acontecer; mas é tudo pouco provável, um talvez.

E nesse dilema entre a certeza e o talvez, é que mora o pior de todos os inimigos: a insegurança. Contudo, meu bem no amor não deveria haver incertezas.

Eu te amo! É a mais clara das fiúzas.

E quando eu digo: “Fica comigo” é uma afirmativa, dizendo que o meu coração quer fazer morada no teu.

Provavelmente tu não vens hoje. Mas, caso venhas, saiba que estarei aqui te esperando, garrafa de vinho e taças postas; mas olhe meu bem, se não vem fique tranqüilo, pois não espero por mais ninguém.

Esperar é doloroso sabe? Cansativo, irritante. É a espera que esfria o café, que estraga o jantar, que apaga as velas e faz com que o amor se debele. Ah, é a espera que faz com que o caramelo passe do ponto. É provavelmente a ação mais inerte que há.

E nesses muitos “provavelmente” quiçá eu conheça alguém. Um que tenha certeza, que fique comigo, que faça do meu peito moradia fixa e da minha boca residência de aluguel. Um alguém que chegue no horário, que me traga um cd de Nara.

Nota: Nara Leão, que fique claro.

Um alguém que entenda das minhas desestruturas românticas, dos meus devaneios intensos, da minha inquietude constante...

Um alguém que no fim da vida, olhe os céus e agradeça a Deus por eu ter feito parte dela e que feneça sorrindo sabendo, pois que um dia o amor também lhe sorriu...


Provavelmente...

(texto: Charles Nascimento)

domingo, 8 de março de 2015

O que é a Vida?


Um dia, contemplando a maestria do céu, sozinha de companhia humana, escoltada de vinho e cd de Bethânia eu me questionei sobre o que é a vida e naquele momento eu não sabia mais o que era viver.

Sentia em mim uma dor flagelada assintomática e cruel. Era a vida cobrando de mim o seu trocado, queria eu poder entender o significado de algo, era uma constante puérpera que não desfrutara do prazer da maternidade, sofrendo de modificações físicas e psíquicas como um vaso na mão de um velho oleiro, era eu refletida naquelas águas, era a vida tomando de mim o que eu não podia lhe dar.

Naqueles momentos de constante inconstância do meu eu, era apropriado que eu me despisse de todos os preceitos e convencionalismos para não dizer, preconceitos em mim enraizados e repensasse o quão bom é ainda estar aqui, viva ou não, não eu não estou falando de morte, hoje não quero falar de morte, saiba você que há pessoas vivas que não sentem, não sofre, não estão em coma, não estão em estado vegetativo, há pessoas por ai caminhando, trabalhando, pensando amar e pensando estar sendo amada, mas que não está viva, isso porque não entendeu o significado dessa infeliz palavra...

Eu sentia o gosto do vinho tocando o céu da boca, eu sentia as canções entrarem em mim como facadas. Eu. Eu. Que peso carrega essas duas letras. Eu. Quer mesmo saber? Eu sentia tudo e já não experimentava nada, tudo era novo e ao mesmo tempo não havia novidade, não mais havia existido amor, tragédia nem romance, estava eu ali somente a procura do significado real que nenhum dicionário poderia me dar à resposta.

Tantas respostas para tantas perguntas...

Indicaram-me então um ótimo terapeuta, diziam que ele iria me curar, não sei como e por que, mas ele curou. Se curou daquele temporal que o havia inundado tempos atrás. Curou do medo de liberdade que o mesmo havia saboreado na doce infância, e não mais havia experimentado.

Curou. Que palavra estranha para ser degustada.


Dizia a mim sessão após sessão que enfim estava descobrindo o que era vida, maldito! Quem pode com ela? Na busca incessante de descobrir os mistérios da vida, descobri que por ora que não havia mais...

(texto: Charles Nascimento)